Parque da Aclimação passa por problemas de administração

Quem frequenta os parques da cidade tem sentido a diferença no dia a dia. Os espaços enfrentam problemas que envolvem segurança e falta de manutenção nos últimos meses. Dos 97 parques da capital, 26 estão sem contrato para manutenção e treze deles sem administradores. Além disso, nove gestores foram destituídos recentemente do cargo pelo novo secretário do Verde e Meio Ambiente, Ricardo Teixeira, e outros abriram mão do posto.

Numa rápida volta pelas áreas verdes, é comum encontrar lixeiras abarrotadas, como a reportagem constatou no Parque da Aclimação; excesso de folhas entupindo escoamentos e falta de limpeza no bairro da Aclimação, como no Colina de São Francisco, no bairro do Rio Pequeno e até banheiros sendo limpos pelo próprio administrador por falta de funcionários, caso do Zilda Natel, no Sumaré.

A falta de ordem e a “dança das cadeiras” nos quadros é parte de uma mudança estrutural na Secretaria do Verde e Meio Ambiente, segundo o titular Ricardo Teixeira, que assumiu a pasta após a desistência do vereador Roberto Trípoli, dias antes da posse.

“As mudanças são naturais quando ocorre alteração na gestão e aqui não seria diferente. Precisamos de pessoas que vistam a camisa de verdade e sejam meus olhos na administração dos parques”, diz Teixeira, que nega o loteamento nos cargos.

A Secretaria possui 750 funcionários de carreira e um orçamento de R$ 75,5 milhões agendado para 2013. Para injetar mais verba nos parques da cidade, sua principal missão, o secretário afirma querer cortar custos de serviços como zelador de praça e aluguel de carros. Para tanto, Teixeira disse estar visitando os parques da cidade, sem aviso prévio, para ver como estão sendo administrados. A reportagem acompanhou com exclusividade uma visita do secretário a três parques da cidade, na última quinta (21).

Xerife do verde

Usando camiseta branca, calça jeans e tênis, o secretário chega ao primeiro destino, o Parque da Aclimação. Atrás dele, é possível ver funcionários correndo para deixar tudo aparentemente em ordem. Com alguns passos, ele logo percebe a dificuldade de andar em linha reta, devido os desvios de solo.

Uma das medidas iniciais adotadas por Teixeira foi emitir um ofício para que todos os parques incluam em seus quadros de aviso o nome e a carga horária dos funcionários que trabalham no local. Cada administrador deve cumprir uma jornada de oito horas de trabalho. “Quando entramos, disseram que essa era a ‘secretaria do meio período’. Descobrimos que tem administradores que não aparecem há um bom tempo e que alguns parques têm até toque de recolher”, afirma.

A norma foi acatada por poucos parques até o momento, como o Parque Buenos Aires, na Consolação, onde ocorreu a segunda parada. Ricardo aprovou a atual administração do local e levantou pontos como a falta de uma profissional da educação física para auxiliar os usuários dos aparelhos de ginástica. Para isso, disse, pretende fazer uma parceria com a Secretaria de Esportes, mas nada foi acertado.

A terceira e última parada do secretário é o Colina São Francisco, no Butantã. Sem manutenção desde agosto de 2012, o local é tido pelo auxiliar Milton Persoli, do Departamento de Áreas Verdes (DEPAV), como um dos mais críticos. Com 49.603 metros quadrados, o espaço tem árvores tombadas por falta de manutenção – o que fez com que a atual administração interditasse uma parte da área. Durante a caminhada, o secretário desviava de galhos e se equilibrava entre o solo escorregadio misturado às folhas que entupiam as calhas de escoamento.





“Compara o Buenos Aires com esse? Nessa hora você vê quem realmente quer trabalhar e quem não está tão a fim”, comenta Teixeira, que assegurou que todas as visitas são surpresa.

Até o momento, segundo ele, nove foram exonerados do cargo, cujo salário é de até 4 mil reais, mas o número pode subir. “A maioria dos casos era problema de gestão. Até crime ambiental nós temos. Eram gestores que não estavam preparados e quando os problemas estão gritantes é fácil de ver. Tem gente boa e que vai continuar”, promete o secretário, que nega que esteja loteando os parques com o seu pessoal.

“Preciso de pessoas de confiança e que eu sei que estarão lá, por exemplo, nos fins de semana, dias que os parques são mais movimentados.”

De acordo com Teixeira, foram analisados caso a caso e a partir dos mais graves, foram tomadas decisões de desligar os funcionários.

Grande parte dessa desorganização, afirma, vem desde a gestão passada e questões como contratos não renovados com as empresas terceirizadas que cuidavam da limpeza e manutenção já o aguardavam em sua mesa quando assumiu a secretaria.

Procurado pela reportagem, o ex-secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, do mesmo PV de Teixeira, não quis se pronunciar sobre possíveis problemas em sua gestão.

Prazos

O prazo estabelecido pelo secretário para que as licitações estejam em dia e os espaços em ordem é de 90 dias. Para agilizar o processo, parcerias não estão descartadas. Uma em andamento atualmente envolve o Itaú-Unibanco e o Parque do Carmo, com vistas à Copa do Mundo no ano que vem. O banco é o patrocinador oficial do evento e próximo ao Itaquerão, que sediará a abertura do campeonato e diversos jogos. “Queremos fazer do parque um modelo para os demais e que ele seja muito usado pelos turistas”, diz.

“Menina dos olhos”

A reviravolta na administração dos parques não poupou nem o mais frequentado da cidade. O Parque do Ibirapuera recebe cerca de 120 mil pessoas por fim de semana e, para Teixeira, era preciso colocar no cargo alguém que representasse “seus olhos”.

Exonerado em fevereiro, o engenheiro agrônomo Heraldo Guiaro, que ocupava o posto desde 2009, disse ter ficado sabendo do desligamento pelo Diário Oficial. “Não tivemos muito contato. Achei chato por não ter sido comunicado antes, mas eu já previa. Me orgulho do que fiz e sei que tinha condições de permanecer. É um cargo de confiança”, conta.

O secretário rebate dizendo que o administrador também nunca o procurou. “Participamos de uma reunião e me coloquei à disposição. Ele não me procurou, não veio ao meu encontro e preciso de gente que se mostre disposta”, diz. Para isso, recrutou José Alonso Junior. graduado em administração e educação ambiental, mas sem experiência na área de meio ambiente. Estar à frente do Ibirapuera, ele diz, “requer uma formação voltada mais para gestão do que propriamente meio ambiente”.

Exibindo no celular uma mensagem enviada pelo prefeito Fernando Haddad às 23h15 do dia anterior, Teixeira diz ter o respaldo do atual administrador que, segundo ele, “está totalmente ligado à causa ambiental”. Entre os projetos, estão o monitoramento com câmeras em todos os parques da cidade, instalação de fontes de energia solar, chips em árvores, entre tantas outras ações. Até que saiam do papel, no entanto, os usuários terão de conviver com a atual situação pelo menos pelos próximos 30 dias — prazo dado por ele para as ações emergenciais.

Fonte: Veja São Paulo





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